sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Crônicas de Arranha Céus - Entre surpresas e acasos.

          Por fim, chego ao escritório, e diante de mim aquele leviatã burocrático, constituído de celulose e tinta negra. Pego a cadeira, arrasto a para junto da mesa, e um a um começo a analisar, e de pouco em pouco, vou decepando a montanha de papeis, de modo a agradar minha visão, pois o gigante começa a ruir. Por volta do final da tarde, dou o golpe de misericórdia, e na ultima rubrica sobre o papel, me liberto da cruz pesada que me fatigava tanto.


         Cansado, mas com um sorriso no rosto, sai do escritório leve, relaxado. Em direção ao metrô, acendo um cigarro, chego à estação, apago o e desço as escadas. Sorte, o trem já vem logo se aproximando da plataforma, não perco o instante e corro direto para o vagão que se abria. Sento e solto o corpo, e me vem aquele suspiro de alivio, graças a deus o vagão está quase vazio, fico a olhar ao nada, e em pensar em nada. Crendo que iria ser uma viagem tranquila, na estação seguinte já contemplo o mundaréu de gente que se aglomerava na plataforma ao ponto de quase transbordar e invadir os trilhos, quando as portas do vagão abriram avançou um turbilhão de pessoas de todos os tipos possíveis, e eu lá sentado, por um segundo pensei que iria ser soterrado sobre aquela massa homérica.


          Mas por sorte que fui poupado, porém, não escapei ao ferrete de Pilatos, já que fui confinado num cubículo humano, a parte que me cabia daquele latifúndio metálico sobre trilhos, a minha esquerda uma mulher já pelos anos de Balzac, a minha direita uma garota por volta dos seus imaturos 15 anos, e a minha frente um homem bem alinhado, por volta dos seus 27 anos, o trem começa a tomar rumo, e no balance do percurso as conversas diversas se perpetuam naquele ambiente, desde a novela e o futebol e outras trivialidades, até o debate acirrado sobre a alma humana de mais alto grau, com direito a recitações de autores, obras e poemas.


          Mas ao fundo um casal em afago mútuo, de forma ternua, com beijos lentos, calorosos, abraços que tinham como fim trazer a pessoa amada para mais perto de seu âmago, de modo que se atracavam pelo amor, ou de forma amorosa, e não na carnalidade escancarada e massificada pela mídia. Por um momento tive a impressão de que nada morre, nada se perde, apenas nos foge dos olhos. Humanidade aquarelada, mudando de tom, mas ainda sendo a mesma cor, ou se mostram diferentes de modo à quase se igualarem.


          Porém via gente a tombar perante o cansaço de vossos corpos e mentes, e eu ficava a pensar, vale a pena à existência só para sobreviver? Ou seria a sobrevivência a esperança por melhores tempos, onde o sol por fim brilhara para estes que dormem apoiados nos cantos, janelas e assentos daquele vagão? Sociedade desvairada, com profundos e supérfluos seres, mas a mim não cabe o titulo de salvador da pátria, que o tenham os que assim desejam.


          Mas paro a reflexão, a estação que se aproxima é onde desembarco, e me antevendo ao fardo de penetrar aquela muralha constituída de homens e mulheres para chegar a porta e sair daquele vagão superpopuloso. Ufa! Consegui, e inteiro por sinal, subo as escadas da estação e saio dela, tomando o rumo de casa, ao chegar na rua, a garoa me faz companhia, mesmo que indesejada, pois me pega desprevenido, porém sigo o caminho, o que mais quero é chegar em casa, tiras os sapatos, sentar no sofá e colocar meus pés encima da mesinha de centro, o resto eu penso depois.


          Chego à esquina e entro na portaria do meu prédio, cumprimento o porteiro e vou para o elevador. Entro e aperto o botão do 12° andar, chego e me dirijo a porta do meu apartamento, ao entrar noto um cheiro de comida no ar, musica ambiente, um vinho e duas taças sobre a mesa posta iluminada pelo castiçal de duas velas, e por ultimo me chega alguém pelas costas que me abraça e afaga meu corpo, e eu a retribuir a acaricia, abraço de costa aquela pessoa, e pelo traçar das curvas do corpo e seu perfume campestre suavemente fresco e adocicado percebo quem é.


          Era Laura, espere um pouco, Laura? Não, os fatos não se conversavam, não estavam em comunhão. Então disse;


          - Quem diria, Laura Lafayett dando uma de romântica – começo a rir, e termino - Devo de estar delirando.


          E ela responde com um dengo de revoltada;


          - Então é assim que o senhor me agradece seu ingrato, acho que não vai querer o meu macarrão ao molho branco então né?!


          Respondi lhe entre risadas:


          - Não pode ser, romântica e ainda “chef de cuisine”, não pode ser a mesma Laura que conheço, não, devo mesmo de estar delirando.


          E ela esbraveja;


          - Mas é mesmo um ingrato.


          Quando ela se afasta de mim, viro e a reatenho em meus braços, a cubro de mim afim de lhe alcançar a boca e beija la ternamente, tendo o perdão daquela que beijo.


          Eu pego os pratos e ela servi, depois sirvo o vinho, jantamos entre conversas e risadas, depois valsamos ao som do tango triste que soa na sala. Valsamos colados como seres de paixão não declarada, juntos a rodopiar, um a sentir a respiração do outro, a se satisfazer somente do calor que o outro emana. Os desejos da carne cessam, ao fim de que a simples companhia já se faz prazerosamente bastante a nos. Estranho, mas não interrompo, pois gosto deste saboroso momento, e este valsar o mundo some me da percepção, me cego ao fim de expandir as outras percepções. O aroma de sua pele, a textura macia, a musica a nos inebriar.


          E por toda a noite íamos desfrutando deste momento até que o celular dela toca, e ela se separa de mim para atende lo, concorda com a pessoa ao lado e o desliga, pega sua blusa e sai apresada, se despede de mim com somente um beijo, sem mais nem menos, mulher instável, imprevisível, e deliciosa por isso. Desligo o radio, apago a vela, esvazio as taças, vou ao banheiro, ligo o chuveiro, vou direto pra debaixo d’água e fico ali um bom tempo, saio, desligo o chuveiro e me seco, e nu vou para cama, alias, estranho seria eu ir para ela vestido, sempre dormi assim, bicho solto, desinibido com meu sexo. Com o meu eu.


          E deitado me ponho a pensar naquele momento impar, um acaso, não compreendo, mas desde quando a razão entende a emoção, só sei que foi voluptuosamente delicioso. E em pensar nisso me pus a dormir. Despertador toca. Ah 7h 30min?! Merda!!! Esqueci de desligar o despertador...

- Dionisio de Aquino - 

2 comentários:

  1. Cara, adoro essa Laura!
    Rsrs

    Queria uma crônica falando mais dela. Vida pessoal, como eles se conheceram...Enfim.

    ResponderExcluir
  2. Hum...Curiosa a senhorita não, não posso fazer nada, dependo da boa vontado do Sr. Dionisio de Aquino.

    ResponderExcluir

O que achas?!