sábado, 2 de outubro de 2010

Trechos de Ruy Barbosa

            Ao magnanimo Sr. Ruy Barbosa, jurista de renome incomparável, constituido de universidades mentais colossais em suas potencias, pai por direito da república brasileira, e patriota nato, em resumo, um homem a frente de seu tempo, um homem atemporal.

         "A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada."

        “Se os fracos não tem a força das armas, que se armem com a força do seu direito, com a afirmação do seu direito, entregando-se por ele a todos os sacrifícios necessários para que o mundo não lhes desconheça o caráter de entidades dignas de existência na comunhão internacional.”

        “Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde.”

        “Toda a capacidade dos nossos estadistas se esvai na intriga, na astúcia, na cabala, na vingança, na inveja, na condescendência com o abuso, na salvação das aparências, no desleixo do futuro.”

        “Eu não troco à justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo.”

        “Amigos e inimigos estão em posições trocadas. Uns nos querem mal, fazem-nos bem. Outros almejam o bem e nos fazem mal.”

        "Uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega à alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida."

        “O governo da demagogia não passa disso: o governo do medo.”

        “A existência do elemento servil é a maior das abominações”

        “As leis que não protegem nossos adversários não podem proteger-nos.”
       
        "A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é o maior elemento da estabilidade"


- Ruy Barbosa -

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crônicas de Aranha Céus – O pecado bate a porta – I Parte

         Acordo as 7h 30min de um domingo por esquecer de desligar a merda do despertador, jogo o com tudo contra o chão, por fim ele para, viro e tento voltar a dormir, inútil, viro e reviro, e sem êxito, me levanto da cama, coloco o roupão, o apartamento esta frio, saio do quarto, sigo pelo corredor até a cozinha, pego meu maço e o isqueiro, vou até a varanda, me sento na cadeira de praia que deixo lá, e coloco meus pés sobre a grade, acendo um cigarro, fumo enquanto olho para a cidade, e fico por um tempo ali, sem pensar em nada, adoro, é como se finalmente provasse do doce néctar da paz, como se fosse imune ao mundo. 
          
         Depois de fumar uns três ou quatro cigarros, vou à cozinha, ver se restou um pouco do jantar de ontem, ligo o radio e o deixo sintonizado numa radio de noticias, esquento o meu prato, pego o e vou à mesa para comer, quando ia me sentar, a campainha toca, vou à porta, e pelo olho-magico vejo uma ruiva estonteante, de olhos anis vividos e mal intencionados, com um vestido negro, curto, de decote generoso e colado ao corpo, de maneira que ressaltava aquele corpo sinuoso e bem apanhado.

          Porém, o curioso é que eu desconhecia aquela ruiva provocante que a minha porta se encontrava, contrariado abro a porta, ela um tanto surpresa pelos meus trajes, pois se percebia que só aquele roupão é que me separava da nudez completa. E sem se apresentar ela vai entrando, e se joga no sofá, e eu a mira lá de forma a interrogar lhe:

- Em que posso ser útil senhorita?! Pergunto a observando.

 - Hahahah.... Sabia que não me reconhecerias, parece que a maconha que nós fumávamos na faculdade lhe custará a memória não?!

           Neste instante um turbilhão de imagens e memórias me veio a cabeça, e diante daquela frase a incógnita ruiva se desmanchava.

 - Guilhermina?! – questiono a com a fisionomia surpresa.

 - Ah! Finalmente, já estava crendo que tinhas esquecido se de mim, o que não seria fácil depois dos fatos que vivemos juntos.

 - Hahaha... De ti não me esqueci, porém, me lembrava de uma Guilhermina de cabelo curto e loira. E além do mais, não estavas em Berlim?!

 - Ah! Estou farta da Europa! Continentezinho arrôgante!

 - Mas não era você que era louca pelo Velho Continente, reduto de mundo civilizado, de vanguarda e mentes abertas?

 - Nem me fale, confesso, estava errada, não que não seja, mas também não é tudo aquilo, eles são xenofóbicos e com complexo de superioridade, veem as brasileiras como putas, se eu não me imponho eles avançam o sinal e fazem o que bem entendem.

 - Ah não, você Guilhermina?! Uma libertina convicta, negando fogo?!

 - Jamais! Porém não sou mulher de se deixar ser mero brinquedo sexual, também quero prazer.

 - Hahahaha... Pelo jeito voltou pra ficar mesmo hein?

 - Parece que já entendeu tudo em Heitor! - e ao falar isso me olhava de forma travessa e leviana.

 - O que a senhorita quer dizer com isso?! – perguntei lhe olhando de forma a estranhar la.

 - Oras, não te lembra do convite que me fizeras há um ano, que caso eu voltasse da Europa e não tivesse onde ficar poderia fazer lhe companhia?

           Putz!! Tinha me esquecido disso, merda, me lembro de quando fiz esta proposta estava pensando no lazer, se é que vocês me entendem, e naquela época eu trabalhava de auxiliar de administração, o que fazia as contas serem pesadas se contarmos o apartamento, comida, luz e outros. Ou seja, uma grana a mais era mais que bem vinda.

           Juntava o útil money a agradável e devassa companhia de Guilhermina. Porém agora a situação é outra, pois tenho um salario bom e aprendi a gostar da liberdade de se viver sozinho. Não dava pra dizer não, nunca fui muito bom em dizer não, e por causa disso, já estive em muitas confusões, a maioria não eram nem minhas.

           E quando ia tentar dizer, me vem um taxista com as inúmeras malas, perguntando a ela onde poderia deixa las, quando vi a cena, vi que desfazer o prometido não resumiria num simples não, e a única alternativa era acatar os fatos, não moro mais só.

           Ela responde que poderia deixar na sala mesmo, que depois ela resolveria isso, vai até ele e o paga, e fecha a porta que eu tinha esquecido aberta. E me pergunta:

 - Aquele quarto vazio ainda esta vazio?!

           Demorei um pouco a responder, atordoado ainda pelos recentes fatos, e percebendo a pergunta dirigida a mim respondo:

 -Sim... sim, mas ainda esta com aquela cama que você odeia.

 - O que?! Não se desfez daquela coisa que você chama de cama ainda?! – reponde ela incrédula.

 -Ora Gui, eu nem uso aquele quarto, por que diabos iria remobiliar lhe?!

 - Filho da Puta! Quando você me convidou pra morar aqui pensava que eu iria dormi aonde, no sofá?!

- Hahahha... Claro que não, dormiria no meu quarto.

 - E você dormiria aonde Heitor?!

           E de forma descarada e com um tom igual respondo:

 - Com você, até porque o quarto é meu.

 - Descarado, então só me convidou pensando nisso né? – retruca entre risadas.

 - Não dispensei esta possibilidade.

           E continuamos a conversar enquanto a ajudava a levar as malas dela no quarto que agora era dela...

 - Dioniso de Aquino -

sábado, 25 de setembro de 2010

Exilado em Terra Pátria

           Uma homenagem menor ao grande Gonçalves Dias, que com certeza versaria melhor que este humilde ser, que tenta em versos, expressar as mazelas que nessa terra perpetua dolorosamente, a altos preços.

Minha terra perdeu suas palmeiras
Onde nem já mais cantava o sabiá
Pois a passarada que aqui gorjeavam divinamente
O homem branco as fez se calar

Nosso céu esfumaçado perdeu o brilho das estrelas
Nossas várzeas perderam suas flores
Nossos bosques perdem pouco a pouco a vida
E nossa vida, ganha cada vez mais horrores e dores

Em cismar, sozinho, à noite
Insisto esta terra amar
E ei de ver o regresso das palmeiras
E de novo contemplar o canto de sua Majestade
O sabiá

Minha terra tem primores,
Que os usurpadores
Mandaram confiscar
E para outras terras
Mandam nossas riquezas
Mandaram para além mar.

Em cismar, sozinho, à noite
Insisto esta terra amar
E ei de ver o regresso das palmeiras
E de novo contemplar o canto de sua Majestade
O sabiá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte a reconhecer a minha pátria
Sem que desfrute das lutas de fazê-la
Voltar a ser a grandiosa terra
Que tem palmeiras, nas quais canta o sabiá
Pois hoje não a reconheço, e o que reconheço
O homem branco se não usurpa, manda matar

- João Piatã Ibiajara -

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Carta aberta aos Ministros do Supremo Tribunal Federal

          Aos Srs. Ayres Britto, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, e as Sras. Camén Lucia e Ellen Gracie, eu vos parabenizo imensamente pelos votos favoráveis a lei "Ficha Limpa", pois ao votarem favoráveis a esta lei, não votaram só pela sua legalidade, mas também votaram a favor do povo brasileiro, de uma politica mais honesta e ética, na defesa do estado democrático e na volta da credibilidade na mais alta corte de nosso país. Novamente vos parabenizo pelos votos favoráveis a lei e o que ela representa para todo o povo brasileiro.

       E para os Srs. Gilmar Mendes, Marcos Aurélio, Celso de Mello, Cezar Peluso e Dias Toffoli, sei que os argumentos contrários à lei "Ficha Limpa" são de natureza verbal e jurídica, e eu na minha condição leiga no que diz respeito ao campo do Direito não creio que posso contrapor a altura, porém questiono aos senhores, e o espirito da lei? Sua alma? Seu cerne? O que o legislador, o povo brasileiro, quis expressar nos artigos, parágrafos e incisos desta grandiosa lei? Ele quis garantir a ética, a honestidade na politica, fazer valer a justiça, livrar das Casas legislativas e executivas senhores de moral e caráter deplorável, este foi o espirito da lei no qual o povo quis transcrever nesta lei, pois o povo não é qualquer legislador, é o Legislador Mor, pois é dele que emana o poder do Estado, então senhores ministros do STF, que tem o seu voto contrário a esta lei, reflitam melhor, pois quem se a tem a pequinês do detalhe, perde a grandeza da compreensão.


          Não se esta votando meramente a legalidade de uma lei, mas a esperança de um povo por uma politica mais ética e justa, que dê frutos de progresso econômico, social e moral, que extirpe do cerne da República todos os cupins que possam ter, que insistem em corromper a Nação, além de usurpa lhe, caros ministros, peço novamente a reflexão de vossos votos. A Nação volta seus olhos para esta Corte, e esperançosa espera ver ecoar para todos os cantos do País que a justiça foi feita e que a impunidade  e os impunes sejam exorcizados das instituições democráticas, e o proveito hediondo para favorecimento da corrupção será sanado. Desejo que esta casa de justiça seja a que garanta essa vitória ao povo brasileiro, e não a homicida do sonho nacional de se ver livre da corrupção.


Atenciosamente.

Evandro Garcia Shiroma, cidadão brasileiro

Crônicas de Arranha Céus - Entre surpresas e acasos.

          Por fim, chego ao escritório, e diante de mim aquele leviatã burocrático, constituído de celulose e tinta negra. Pego a cadeira, arrasto a para junto da mesa, e um a um começo a analisar, e de pouco em pouco, vou decepando a montanha de papeis, de modo a agradar minha visão, pois o gigante começa a ruir. Por volta do final da tarde, dou o golpe de misericórdia, e na ultima rubrica sobre o papel, me liberto da cruz pesada que me fatigava tanto.


         Cansado, mas com um sorriso no rosto, sai do escritório leve, relaxado. Em direção ao metrô, acendo um cigarro, chego à estação, apago o e desço as escadas. Sorte, o trem já vem logo se aproximando da plataforma, não perco o instante e corro direto para o vagão que se abria. Sento e solto o corpo, e me vem aquele suspiro de alivio, graças a deus o vagão está quase vazio, fico a olhar ao nada, e em pensar em nada. Crendo que iria ser uma viagem tranquila, na estação seguinte já contemplo o mundaréu de gente que se aglomerava na plataforma ao ponto de quase transbordar e invadir os trilhos, quando as portas do vagão abriram avançou um turbilhão de pessoas de todos os tipos possíveis, e eu lá sentado, por um segundo pensei que iria ser soterrado sobre aquela massa homérica.


          Mas por sorte que fui poupado, porém, não escapei ao ferrete de Pilatos, já que fui confinado num cubículo humano, a parte que me cabia daquele latifúndio metálico sobre trilhos, a minha esquerda uma mulher já pelos anos de Balzac, a minha direita uma garota por volta dos seus imaturos 15 anos, e a minha frente um homem bem alinhado, por volta dos seus 27 anos, o trem começa a tomar rumo, e no balance do percurso as conversas diversas se perpetuam naquele ambiente, desde a novela e o futebol e outras trivialidades, até o debate acirrado sobre a alma humana de mais alto grau, com direito a recitações de autores, obras e poemas.


          Mas ao fundo um casal em afago mútuo, de forma ternua, com beijos lentos, calorosos, abraços que tinham como fim trazer a pessoa amada para mais perto de seu âmago, de modo que se atracavam pelo amor, ou de forma amorosa, e não na carnalidade escancarada e massificada pela mídia. Por um momento tive a impressão de que nada morre, nada se perde, apenas nos foge dos olhos. Humanidade aquarelada, mudando de tom, mas ainda sendo a mesma cor, ou se mostram diferentes de modo à quase se igualarem.


          Porém via gente a tombar perante o cansaço de vossos corpos e mentes, e eu ficava a pensar, vale a pena à existência só para sobreviver? Ou seria a sobrevivência a esperança por melhores tempos, onde o sol por fim brilhara para estes que dormem apoiados nos cantos, janelas e assentos daquele vagão? Sociedade desvairada, com profundos e supérfluos seres, mas a mim não cabe o titulo de salvador da pátria, que o tenham os que assim desejam.


          Mas paro a reflexão, a estação que se aproxima é onde desembarco, e me antevendo ao fardo de penetrar aquela muralha constituída de homens e mulheres para chegar a porta e sair daquele vagão superpopuloso. Ufa! Consegui, e inteiro por sinal, subo as escadas da estação e saio dela, tomando o rumo de casa, ao chegar na rua, a garoa me faz companhia, mesmo que indesejada, pois me pega desprevenido, porém sigo o caminho, o que mais quero é chegar em casa, tiras os sapatos, sentar no sofá e colocar meus pés encima da mesinha de centro, o resto eu penso depois.


          Chego à esquina e entro na portaria do meu prédio, cumprimento o porteiro e vou para o elevador. Entro e aperto o botão do 12° andar, chego e me dirijo a porta do meu apartamento, ao entrar noto um cheiro de comida no ar, musica ambiente, um vinho e duas taças sobre a mesa posta iluminada pelo castiçal de duas velas, e por ultimo me chega alguém pelas costas que me abraça e afaga meu corpo, e eu a retribuir a acaricia, abraço de costa aquela pessoa, e pelo traçar das curvas do corpo e seu perfume campestre suavemente fresco e adocicado percebo quem é.


          Era Laura, espere um pouco, Laura? Não, os fatos não se conversavam, não estavam em comunhão. Então disse;


          - Quem diria, Laura Lafayett dando uma de romântica – começo a rir, e termino - Devo de estar delirando.


          E ela responde com um dengo de revoltada;


          - Então é assim que o senhor me agradece seu ingrato, acho que não vai querer o meu macarrão ao molho branco então né?!


          Respondi lhe entre risadas:


          - Não pode ser, romântica e ainda “chef de cuisine”, não pode ser a mesma Laura que conheço, não, devo mesmo de estar delirando.


          E ela esbraveja;


          - Mas é mesmo um ingrato.


          Quando ela se afasta de mim, viro e a reatenho em meus braços, a cubro de mim afim de lhe alcançar a boca e beija la ternamente, tendo o perdão daquela que beijo.


          Eu pego os pratos e ela servi, depois sirvo o vinho, jantamos entre conversas e risadas, depois valsamos ao som do tango triste que soa na sala. Valsamos colados como seres de paixão não declarada, juntos a rodopiar, um a sentir a respiração do outro, a se satisfazer somente do calor que o outro emana. Os desejos da carne cessam, ao fim de que a simples companhia já se faz prazerosamente bastante a nos. Estranho, mas não interrompo, pois gosto deste saboroso momento, e este valsar o mundo some me da percepção, me cego ao fim de expandir as outras percepções. O aroma de sua pele, a textura macia, a musica a nos inebriar.


          E por toda a noite íamos desfrutando deste momento até que o celular dela toca, e ela se separa de mim para atende lo, concorda com a pessoa ao lado e o desliga, pega sua blusa e sai apresada, se despede de mim com somente um beijo, sem mais nem menos, mulher instável, imprevisível, e deliciosa por isso. Desligo o radio, apago a vela, esvazio as taças, vou ao banheiro, ligo o chuveiro, vou direto pra debaixo d’água e fico ali um bom tempo, saio, desligo o chuveiro e me seco, e nu vou para cama, alias, estranho seria eu ir para ela vestido, sempre dormi assim, bicho solto, desinibido com meu sexo. Com o meu eu.


          E deitado me ponho a pensar naquele momento impar, um acaso, não compreendo, mas desde quando a razão entende a emoção, só sei que foi voluptuosamente delicioso. E em pensar nisso me pus a dormir. Despertador toca. Ah 7h 30min?! Merda!!! Esqueci de desligar o despertador...

- Dionisio de Aquino -