quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pausa para a Poesia: De que serve a Bondade - de Bertolt Brecht

 
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio! 


- Bertolt Brecht -

Entendeu ou quer que eu desenhe?! - Adão Iturrusgarai, O bom sodomita









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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Confesso

     Sinceramente, chega a certo ponto da coisa que dá vontade de consumar o mesmo ato que eternizou o prefeito romano da Judéia. Limpar as mãos, de modo a limpar a consciência e exorcizar os pesos das cruzes que carregamos, sendo muitas vezes nem nossas. 

     Muitas vezes tal desejo de largar de mão, chuta o pau da barraca, falar “pois bem se é assim que desejam”... Ou para os mais literários e de língua franca- felina “então já que querem se foder que se fodão...”. Visto que nos empenhamos tanto para fazer uma coisa para um bem coletivo, ou somente pelo outro, e vemos que a coisa não anda, piora, ou prospera em um caminho macabro, corrupto e desvirtuado pelo fator de que a outra parte não esta nem ai, esta se lixando.

     Vou me dar ao luxo de até fazer recitação bíblica, já que tal versículo cai como uma luva ao post aqui presente.



Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés, e, acometendo-vos, vos despedacem.”

- Mateus 7:6 – 

     Pois o povo esta a tal ponto entorpecido, anestesiado com o contexto que parece não reage à realidade que lhe dão, parece que vivem em um contexto fora do existente, parece que a humanidade perdeu sua independência e volta a ser regida pela natureza, de modo que só tendem a seguir existindo pela mera e débil sobrevivência, vegetativos de sua noção de humanidade. 

     Por fim parece que o mal ganhou, o egoísmo é vencedor e o “eu” triunfa diante do “nós”. E por mais batalhas que possamos ver ganhas pelos homens e mulheres de bem, ainda a guerra parece perdida para os demais. Que estufam aos seus iguais com veemência e convicção de que isso não adianta, só atrasa o inevitável. 

     Triste confesso que Aldous Huxley não escreveu uma ficção quando nos contou a história de Bernard Marx, parece que ele apenas fez uma analogia de nosso contexto, e diria que foi até utópico em desacordo com os acadêmicos que o nomeiam de distópico. Pois mesmo que num sistema de casta existente, cada qual em sua classe se sentia feliz por estar nela, se sentia completo e vivia alegre por assim ser e viver. 

     Já a nossa realidade nem a isso nos é contemplado, nosso anestésico se chama comodismo, inércia, morosidade, covardia. Pois nos damos por feliz pela desgraça que nos encontramos, pelo estado putrefeito das coisas que damos graças, como se fosse benevolência dos poderosos a nossa existência. 

     Diante disto, penai oh Elpistas, penai, pois a sina vossas é esta, serem acoitados por quem ajudam, e por quem enfrentam. Ser integro em meio a ladrões e cumplices, se vingar do mal com o bem, combater o poder do dinheiro com o coração. Chorar por aqueles que nem por ti se importam. Abraçar quem te apunha-la. 

     Tal como o nazareno em cruz e sangue, os jovens com flores em punhos contra o batalhão em armas, o operário em grito de ordem e protesto e o patrão em cortes injustas e complacentes, o povo em marcha pelo direito e com mesmo diante do eleito em roubos, maracutaias e corrupção com a certeza de indulgencia da impunidade. 

    Pobre elpista, luz e resistência do mundo, que sabedor de seu fardo, não abandona o páreo, defensor de sua gente, cumpridor do mandamento do redentor, teimoso alquimista, na tarefa insólita do impossível transmutar do sonho em realidade, pois a impossibilidade é só uma mera questão de tempo segundo eles.