segunda-feira, 29 de março de 2010

Pausa para a Poesia: "Eu, etiqueta" - de Carlos Drummond de Andrade

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

                                                                          Carlos Drummond Andrade

sexta-feira, 26 de março de 2010

Democracia & Liberdade: teórica ou prática?


           A 25 anos o Brasil saia de um regime autoritário e entrava numa democracia, pela primeira vez em vinte sangrentos e tortuosos anos de ditadura, a nação via um homem sem farda colocar a faixa presidencial, enfim um civil no poder.

           Depois veio a Assembléia Constituinte, no comando do grande Ulisses Guimarães, que é conhecido como o pai da constituição de 88, a "cidadã". Em seus artigos, parágrafos e incisos era firmado os direitos e deveres do povo brasileiro, e sobre tudo, o mais ansiado e desejado pelo país, a Liberdade ampla e irretorquível, era chegada à hora de o povo fazer uso daquilo que já era seu por direito, ser livre para pensar, agir, e sobre tudo, falar.

           Agora ele podia ter opinião, e não temer a ela, como tristemente outrora não era possível, sobe pena de morte, além de ter opinião poderia manifesta lá, divulgar idéias, debater tabus e assuntos polêmicos sem medo de retaliações, ou algo do tipo. Finalmente era tirada a amordaça que nos calava. Que alivio!

           Porém, nem só de glória e comemorações nos é vindo estes 25 anos de redemocratização, diante da queda dos tiranos, se ergueram outros, que não atacam durante a luz do dia, mas sim através da distorção dos valores e de instituições democráticas. E ao contrário dos ditadores de 64, esse não mostram a cara, ficam atrás das cortinas, como parasita que nos usurpa e nos molesta, mas não nos mata, pois para ele não convém matar a fonte de seu sustento.

          Assim, esses senhores parasitas se voltam para si e pelo bem de si, a nação é deixada ao léu, e diante desta situação de impunidade viril, surge um suposto estado de anarquia, onde o abuso da lei é praticado a toda hora, seja na arrogância do político corrupto e impune, ou no autoritarismo do mau policial diante do cidadão.

          Quando lhe impõem a arma e lhe manda colocar as mãos sobre a cabeça, se esquecem estes senhores que para impor uma arma para alguém, este alguém tem que lhe estar oferecendo perigo, e a blitz só pode ser efetuada em caso de suspeita formalmente escrita em documentos, e não a torto e a direita, sem mais nem menos. Esquecem-se do principio de inocência, ou seja, todo cidadão é inocente até que se prove o contrário, mas eles nem pra isso estão ligando, tratam o cidadão como um bandido que há de cometer um crime.

           Enquanto existir a impunidade, os atos de corrupção e descaso com a coisa pública dos políticos há de proliferar, o autoritarismo e arrogância do mau policial estarão na ativa, e o criminoso a cometer os seus delitos sem o menor pingo de medo de algo que deveria honrar o nome, Justiça.

           Esta selvageria, onde um quer ganhar encima do outro, um quer dominar e oprimir o outro, onde um vale mais que o outro, ou outros. Diante disto, estes distintos senhores riem da Democracia, controlam a liberdade e tiranizam sobre o povo, que de tão manipulado e comodista, aceita as condições a ele imposta, e como válvula de escape só reclama sentado, para as paredes de sua casa e ouvidos de quem lhe escuta. Ações que só anestesiam a situação quando ela se torna insuportável, mas que ainda sim não cura o enfermo que o angustia.

         
            Encerro este pots com as frases deste homem magnânimo:

De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto
”.
 
                                                              -Ruy Barbosa-



quinta-feira, 25 de março de 2010

Políticos sabem o que é Política de fato?!

     Política é a arte de gerir nações, estados e municípios para o bem do povo, ou seja, administrar para o bem comum de todos os cidadãos. Sendo assim os cargos de prefeitos, vereadores, governadores, deputados estaduais/federais, senadores e presidente da republica, são cargos que tem como dever trabalhar por isso.

     Infelizmente não é isso que ocorre, tais cargos são empossados por pessoas que durante a campanha prometem tudo e um pouco mais. Depois de eleitos, se esquecem de suas promessas, de seus deveres para com o povo e só trabalham pra beneficio próprio, do partido e de certas partes da sociedade, geralmente empreiteiras e empresas.

    Tem que se começar a criar uma mentalidade neste país que político é profissão como qualquer outra, que possui responsabilidades e deveres como as demais. É dever do médico cuidar da saúde de seu paciente e ser responsável por ela, o professor tem o dever de educar nossos estudantes e tem a responsabilidade de lhes ensinar com qualidade e seriedade, o político tem o dever de trabalhar para a população, cuidar da saúde publica, da educação, segurança, transporte, economia, e infra-estrutura, seja a nível federal, estadual ou municipal, e ser responsável de forma a não coagir corruptamente, ou de forma mesquinha e egoísta.

    Para tanto é necessário que o povo fiscalize estes senhores, lute por uma classe de políticos mais séria, honesta, ética e que tenha compromissos com o povo. Pois somente a população pode fazer isso, temos que deixar de pensar só em nós mesmo, temos que pensar não como seres individualistas que convivem num mesmo espaço, mas sim uma nação, um povo, cada um pensando no seu semelhante, pois sonho sonhado por um não passa de um sonho, já sonho sonhado por uma multidão é revolução. Encerro este post com os versos sínteses deste texto.

                        "A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada."             

                                                                                                 Ruy Barbosa

Fiat Lux!

                 
                  Começo o primeiro post com a expressão que da nome a este texto, é uma expressão em latim que significa "Que se faça a luz", muito usada no movimento Iluminista, além de seu significado superficial e gramatical, ela possui uma segunda intenção, uma analogia, que é de tirar o povo da ignorância em que vive, de seu individualismo ou comodismo, que é as trevas, e traze lo a luz, personificada como sabedoria. De forma que possamos chamar de seres iluminados, pois toda desgraça humana vêm das trevas que o homem e seus semelhantes vivem.
                 
                 Trevas está que contém em seu ser os vícios humanos, todos eles, como a ganância, autoritarismo, arrogância, avareza, ódio, inveja, luxuria, preguiça, preconceito, calúnia, difamação, injúria, e tantos outros milhares de vícios humanos. Ao contrário da Luz, que provém sabedoria, caridade, justiça, honestidade, igualdade, respeito, amor ao próximo, e um oceano de outras qualidades, chamadas de virtudes humanas.
                 
                 Isso é a parte teórica deste folhetim, o que é muito bonito, e uns até chamariam de utópico, porém, não é impossível de se realizar, não lhe digo que se tornem santos! Não, ninguém aqui é perfeito, mas se começarmos a pensar nos nossos atos, tanto no individual quanto no coletivo, e refletirmos que ações tomamos, já é um começo, diante desta reflexão ira vir as respostas, ver se estamos sendo virtuosos ou viciosos, e a partir dai corrigir os erros, estabelecer valores, e ver que não somos donos do mundo, que a pessoa ao lado é tão gente quanto você, e que tem direito a vida digna tanto quanto você.
 
                Quando nos conhecemos melhor, é mais fácil evoluir, melhorar, exorcizar nossos temores, e o que nos angustia e reprime, tornar as coisas mais claras, que faz com que iluminemos a solução, um norte a rumar. O ser humano esta fadado a evoluir, melhorar sempre, mas de que vale uma evolução gigantesca de tecnologia, sendo que os nosso problemas existenciais e humanos mais antigos ainda persistem e insistem em nos aterrorizar. E não só refletir sobre a nossa vida, mas também sobre nossa sociedade, nossa cidade, sobre o estado e o país.
           
                Todo problema deste país é fruto da irresponsabilidade deste povo, por não pensar nos seus atos, quando votou, quando não fiscalizou, quando não se manifestou ou se organizou para falar em prol de si e seus iguais. Por isso é que não podemos ser seres ignorantes, pois vamos virar massa alienada e facilmente manipulada, dai vem a reflexão, o pensar, o questionar, o contestar. Querer saber o porquê das coisas, fatos e acontecimentos, porquê são assim, para que possamos ver o que é fato e o que é mentira, o que é real e o que é imaginário.
                 Por isso convoco a todos que lerem este post à reflexão, e que este espaço seja usado para debates de diversas naturezas, desde que produtivas. Pois a natureza deste blog é contestar, pois nada parece ser o que de fato é. Da contestação proverá a Liberdade!